quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

'Tás-me a dar o tango

Cruzaram-se os olhares. Uma, duas, três vezes. Logo a seguir ao vestido justo, com uma racha que lhe subia do joelho quase quase quase até à anca, reparou-lhe nas pestanas tão longas que, à medida que pestanejava, apesar da distância, quase jurava ouvir um plic, plic, plic. Também podiam ser os ponteiros do relógio que tinha no pulso, acabadinho de comprar àquele cigano que o abordou na rua nessa manhã. Um prolex ou lá o que era. Ajeitou o bigode com um toque refinado e fez um jeitinho de lábios, assim como aqueles que se fazem com o sobrolho. Foi buscar uma bebida ao bar e deslizou estilo gincana pela sala, com toda a elegância. Já tinha o discurso alinhavado. Tudo ia depender de ela levar ou não o copo à boca no preciso momento em que lhe dirigisse a primeira palavra. Se o levasse avançaria com o plano A, se não o fizesse entrava em acção o plano C (passava assim do A para o C, porque tinha uma espécie de superstição com a letra B de burro). Avançou. Tocou-lhe ao de leve no ombro. Ela, fingindo surpresa, largou o copo da mão e deixou-o estatelar-se no chão. Planos por água abaixo. Tanga?, perguntou ele, nervoso. Não uso, respondeu ela com um sorrisinho atrevido. Mas podemos dançar o tango. Plic, plic, plic. Afinal, era mesmo o pestanejar dela.

1 Comentários:

Blogger jkimilas disse...

"plano de ataque" bem ao estilo Zézé Camarinha.

linda cena e boa música.
parabéns!

10 de fevereiro de 2011 às 16:19  

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