quarta-feira, 20 de maio de 2015

Isto assim não dá

Naquele dia, ela decidiu que as coisas iam ser diferentes. Não acordou com a ideia em mente, nem sequer lhe ocorreu tal coisa ao longo do dia. Não, foi assim um pensamento súbito que aconteceu no preciso momento em que se olhou ao espelho quando foi escovar os dentes e percebeu que tinha os óculos postos na cara. Não é comum isso acontecer. Cada vez que se movimenta pela casa tem o hábito de largar os óculos. Mas naquele dia, por alguma razão, não o fez. Ainda a escovar os dentes sorriu ao imaginar o que podia acontecer se mantivesse os óculos na cara. Aconteça o que acontecer, não vou tirá-los, pensou. Lembrou-se depois de todos os momentos em que ele se esquecia de tirar os óculos e acabava invariavelmente por dizer: mas o que é que eu estou a fazer com isto na cara? Normalmente era depois de terem trocado aqueles beijos, uns mais sôfregos outros mais doces, quando os óculos já os tinham atrapalhado o suficiente. Chegado o momento, olá, trocaram então os tais beijos. Clanc. Óculos com óculos, diz ele. E ela nada. Minutos depois. Ele: Vou mas é tirar os óculos. Oh, já?, pergunta ela. Já, responde-lhe. Estragaste-me a brincadeira toda, refila ela. Agora como é que vou terminar o meu texto sobre namorados enamorados e guerra de óculos? Ele encolheu os ombros e calou-a com beijos.

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