terça-feira, 15 de agosto de 2023

Cheira a limão

Encostou a testa na janela e sentiu no corpo o peso da falta de sono. Ficou ali de olhos calados, presos como velcro no fio do horizonte, a boca semicerrada, dormente pela ausência de palavras. Uma gota de suor mais atrevida escorregou por entre os contornos do seu rosto imóvel e forçou a entrada no canto da boca. Sentiu-lhe o sabor a sal. Com a ponta da língua, tocou aquele canto. Ao mesmo tempo, forçou um pestanejar de olhos. E mais outro. Quanto tempo terá passado desde que deixou o bolo a crescer no forno?, pensou. Com passos curtos, assim como se estivesse em traje de gueixa, deslizou os pés descalços pela tijoleira fresca, aproximou-se do fogão, abriu a porta do forno e sentiu um bafo de calor escaldante, como se estivesse num deserto com cheiro a limão, a bolo de limão. Agora sim, os sentidos estavam todos despertos. Como o sono.

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