E ainda a vida vai a meio
O
jardim tinha um lago no meio, que tinha uma casa de madeira no meio,
com patos lá dentro, que quase de certeza dormiam, provavelmente no
meio da casa. Isto era impossível de confirmar, no meio do escuro.
No meio do jardim, havia também um coreto, com um grupo de pessoas
no meio, a ouvir uma música meio agitada. Naquele jardim meio
iluminado pelas luzes brancas de Natal, existia ainda uma biblioteca.
Quer dizer, não era uma biblioteca à séria. Era uma cabine
telefónica daquelas antigas, vermelhas, com várias dúzias de
livros espalhados por meia dúzia de prateleiras. Uns eram livros
meio desgastados pelo tempo, outros meio novos. Não havia nenhum
novinho em folha, isso é certo. Lá dentro, um par de pessoas, assim
meio apertadinhas, pegava em livros ao calhas, abria-os à toa, e lia
passagens do que os autores tinham escrito. (Sabiam que as focas
conseguem suster a respiração debaixo de água por mais de meia
hora? Se está escrito num daqueles livros, não é com certeza uma
meia verdade.) Quando a respiração daquele par de pessoas embaciou
todos os vidros da biblioteca, ela escreveu num dos vidros o nome
dele. Rui. Ele abriu a porta meio à pressa, saiu, voltou a fechá-la
e, com a cara meio encostada ao vidro, perguntou-lhe: olha, por que é
que escreveste ali iuR?
Nota
importante: aquela biblioteca fica com lotação esgotada com duas
pessoas.
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