quinta-feira, 10 de março de 2011

Geração aflita

Era ainda (mais) miúda, mas lembro-me como se fosse hoje. 'É muito feio, especialmente dito por uma menina', disse a minha mãe. Se o reparo foi feito deve ter sido porque me saí com a expressão uma ou outra vez. A verdade é que aquilo ficou gravado na pele da minha memória, de tal maneira que eu própria passei a sentir um certo incómodo nos ouvidos sempre que alguém perto de mim a proferia. A coisa correu mais ou menos bem até à década de 90, quando o termo foi aplicado a uma geração de pessoas. O eco da palavra nos meus ouvidos era enervante. Soava mal, mesmo mal. Depois a coisa mais ou menos que acalmou ao longo dos últimos anos... até agora. Agora, as mesmas pessoas a quem o termo foi aplicado, juntamente com outras pessoas, pegaram nele e, como diz aquele ditado popular, virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Eu acho tudo muito bem, digo a-p-o-i-a-d-o com todas as letras, mas defendo que ficava muito melhor dizer 'geração aflita' ou mesmo 'geração aflitinha'. É que 'à rasca' é uma expressão feia que nem um bode.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Acabou a birra e é já!

Já se sabe que os meninos são doidos por carrinhos, da mesma forma que as meninas são doidas por bonecas. Já se sabe o quanto uns e outros batem o pé, os mais contidos, esperneiam, os mais irreverentes, berram, os mais mimados (para não dizer mal educados). Já se está mesmo à espera que é isto que acontece quando se lhes tira o brinquedo, porque são miúdos e o brinquedo, a par com o chupa-chupa, é mesmo a coisa mais importante da vida deles. Depois, meninos e meninas crescem e vão trocando o apego pelos brinquedos (e pelo chupa-chupa) pelo apego a outras coisas. No fundo, substituem-no. Substituem-no por pessoas de que gostam muito e que já não tratam, nem devem, como brinquedos. Não convém andar aí a arrancar os olhos e os braços às pessoas, como fazem as meninas com as bonecas, ou a empurrá-las com toda a força, a fazer vrum vrum, como fazem os meninos com os carrinhos. E continuam a crescer e a crescer e deixam de fazer birras. Deixam de fazer birras quando se lhes tira as pessoas de que gostam. E aí só choram. Para dentro.