Geração aflita
Era ainda (mais) miúda, mas lembro-me como se fosse hoje. 'É muito feio, especialmente dito por uma menina', disse a minha mãe. Se o reparo foi feito deve ter sido porque me saí com a expressão uma ou outra vez. A verdade é que aquilo ficou gravado na pele da minha memória, de tal maneira que eu própria passei a sentir um certo incómodo nos ouvidos sempre que alguém perto de mim a proferia. A coisa correu mais ou menos bem até à década de 90, quando o termo foi aplicado a uma geração de pessoas. O eco da palavra nos meus ouvidos era enervante. Soava mal, mesmo mal. Depois a coisa mais ou menos que acalmou ao longo dos últimos anos... até agora. Agora, as mesmas pessoas a quem o termo foi aplicado, juntamente com outras pessoas, pegaram nele e, como diz aquele ditado popular, virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Eu acho tudo muito bem, digo a-p-o-i-a-d-o com todas as letras, mas defendo que ficava muito melhor dizer 'geração aflita' ou mesmo 'geração aflitinha'. É que 'à rasca' é uma expressão feia que nem um bode.