sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O senhor do anel

Tinha tantos anéis que havia quem lhe chamasse a rapariga dos anéis, como aquele filme do cinema, que dura muitas horas e as pessoas começam a mexer-se todas impacientes nas cadeiras. Ainda assim, nenhum anel era como aquele. Aquele anel era sem nada, não tinha pedras, nem brilhantes, nem essas coisas, mas quando ela o enfiou no dedo soube que nunca mais ia querer tirá-lo. Nem mesmo à força, assim como se faz quando os dedos ficam maiores por causa do calor e depois esfregamos sabonete e ficamos vermelhos de fazer esforço para tirar o anel. Ela sabia que aquele anel era o tal que nunca ia guardar na caixinha onde tinha todos os outros. 'Este anel vai ser parte do meu dedo anelar para sempre', pensou. Nesse preciso momento, começou a ouvir um grande alarido. Parece que os outros dedos todos estavam a comentar o facto de aquele anelar ser a partir de então o mais importante. 'De certeza que ela vai olhar mais para ele do que para nós', diziam os mindinhos para os indicadores. Claro que os polegares também estavam a respingar entre si, com um ar zangado. A rapariga tentou abstrair-se daquele dedilhar de conversas e pôs as duas mãos nos dois ouvidos. É certo que aquilo só deu foi mau resultado, porque os dedos todos ficaram ainda mais próximos dos ouvidos e ela ouvia tudo mais alto. Muito depressa, tirou as duas mãos dos dois ouvidos e pô-las dentro dos bolsos. Ainda ouvia os dedos a reclamarem, mas mais ao longe, como se estivessem debaixo da torneira quando ela lava as mãos e a água está muito fria ou muito quente. Foi então que o anelar saltou do bolso e pediu à rapariga para chamar os outros. 'Agora mostra-lhes lá aquele papelinho que escreveste, só por causa do anel que puseste em mim'. No papelinho dizia assim:


fica-me a matar
o anel no anelar
é tão bom amar
amá-lo sem fartar

e beijar e beijar e beijar

abraçar
dançar
abraçar
pular
beijar

ai, este anel no anelar

ninguém mo vai roubar

nem tu!

'Algum outro anel a fez escrever assim?', perguntou o anelar. Todos os outros dedos encolheram-se. E diz o anelar: 'Então, pronto! todos caladinhos. A partir de agora quero que me tratem por senhor do anel'. E foi assim que aquele anelar passou a ser chamado o senhor do anel.