quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Coisas sérias ditas a brincar


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

E ainda a vida vai a meio

O jardim tinha um lago no meio, que tinha uma casa de madeira no meio, com patos lá dentro, que quase de certeza dormiam, provavelmente no meio da casa. Isto era impossível de confirmar, no meio do escuro. No meio do jardim, havia também um coreto, com um grupo de pessoas no meio, a ouvir uma música meio agitada. Naquele jardim meio iluminado pelas luzes brancas de Natal, existia ainda uma biblioteca. Quer dizer, não era uma biblioteca à séria. Era uma cabine telefónica daquelas antigas, vermelhas, com várias dúzias de livros espalhados por meia dúzia de prateleiras. Uns eram livros meio desgastados pelo tempo, outros meio novos. Não havia nenhum novinho em folha, isso é certo. Lá dentro, um par de pessoas, assim meio apertadinhas, pegava em livros ao calhas, abria-os à toa, e lia passagens do que os autores tinham escrito. (Sabiam que as focas conseguem suster a respiração debaixo de água por mais de meia hora? Se está escrito num daqueles livros, não é com certeza uma meia verdade.) Quando a respiração daquele par de pessoas embaciou todos os vidros da biblioteca, ela escreveu num dos vidros o nome dele. Rui. Ele abriu a porta meio à pressa, saiu, voltou a fechá-la e, com a cara meio encostada ao vidro, perguntou-lhe: olha, por que é que escreveste ali iuR?

Nota importante: aquela biblioteca fica com lotação esgotada com duas pessoas.